19 outubro 2006

coprofilia


12/10/06
(apontamentos do meu diário)

Não pode a nossa reles humanidade sonhar com ato mais sublime que ir de corpo. Sentado ao trono, todo servo é rei; obrando, o soberano despe-se de toda sua realeza.
Marquês de Sade

Meu aparelho digestivo funciona de maneira impecável, conduzindo-me ao trono duas vezes ao dia. Os horários em que se manifesta são por volta das três horas da tarde e das nove horas da noite. Há aí uma lógica bastante simples: refeição – peristaltismo – urgência.

Nunca padeci de prisão de ventre. Deve doer. E causa câncer anal. O pai de um colega meu do Ritz teve isso. Morreu em lenta agonia. Além da quimioterapia, submeteu-se a mais terrível cirurgia que pode existir. O seu intestino grosso estava inteirinho tomado pelo “caranguejo”. Os médicos tiveram que lhe extrair o órgão e também o cu. Instalaram uma sonda no lugar, e ele passou a viver preso a sacos plásticos que espontaneamente se enchiam da sua própria merda e tinham de ser trocados três vezes ao dia. Dormia, acordava, banhava-se, almoçava, lia poesia, comia a esposa, tudo acompanhado do aparelho fétido, carinhosamente batizado de “mulatinho”. O velho não perdeu o rebolado com a desgraça. Pelo contrário, brincava que de hemorróidas jamais sofreria de novo. Quando os netos vinham almoçar e anarquizavam a casa, bradava, “caralho, se não pararem com a baderna, vai voar bosta na cabeça de vocês!”. A molecada caía na gargalhada sob os olhares de reprovação dos pais. A doença era apenas um motivo a mais para rir da frágil biologia humana. Mas a alegria durou pouco. O quadro clínico do velho degringolou de repente. No leito de morte, ainda encontrou fôlego para o derradeiro chiste. Anunciou que desejava ser canonizado, pois partia dessa para a melhor praticamente transformado em anjo. “Se é verdade que os mensageiros do Senhor não têm sexo, então é porque também não têm genitália – não cagam nem peidam. A mim, só me faltam asas!”, sentenciou com dificuldade e apagou. Um odor fúnebre dominou o quarto. A família lamentou profundamente o falecimento. Finda a choradeira, o enfermeiro da noite desatarraxou o “mulatinho”. E o velho foi esquecido no dia seguinte à missa de trigésimo dia.

ENFEZADO
adjetivo
1 tomado de raiva, aborrecimento ou birra; irritado
2 de gênio temperamental, irascível
3 que não se desenvolveu; raquítico
4 de dimensões reduzidas; pequeno, acanhado
5 Regionalismo: Brasil.
que empacou (diz-se de animal)

O verbete “enfezado” designa o estado de espírito característico de quem tem prisão de ventre. Literalmente: vísceras abarrotadas de fezes. Daí, o mau humor crônico.

Nas horas em que o dever fisiológico impele-me ao reservado, geralmente estou na USP resolvendo as “pendências acadêmicas” que me fazem refém do terceiro grau há quase seis anos. Isso é realmente constrangedor. Mas esse causo, contarei semana que vem.

Esse utensílio sanitário aí em cima leva o divertido nome de SQUAT TOILET.


8 comentários:

  1. Anônimo12:21 PM

    ooo o bundo

    você deveria atualizar o buraco com a mesma freqüência que é coroado.

    Seu peristaltismo supera em velocidade o que se passa entre suas sinapses.

    dommage.

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  2. Meu problema não é intelectual, Francesinha, é motoro.

    Raciocínio veloz para dedos demasiado preguiçosos.

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  3. Anônimo6:35 PM

    MOTORO
    {verbete}
    Acepções

    ■ substantivo masculino
    Rubrica: ictiologia. Regionalismo: Brasil.
    m.q. arraia-de-fogo (Paratrygon motoro)

    Etimologia
    segundo Nascentes, prov. orig. indígena


    MOTOR
    {verbete}
    Datação
    1690 cf. Alma

    ■ adjetivo
    1 Rubrica: fisiologia.
    que diz respeito à motilidade
    Ex.: distúrbios m.
    1.1 (1690)Rubrica: fisiologia.
    que possibilita, encaminha ou provoca os movimentos voluntários e automáticos do corpo (diz-se de órgão, nervos, zona do cérebro etc.)
    Ex.: nervo m.; neurônio m.; placa motora
    2 (1858)
    que produz força para acionar máquinas ou engenhos afins
    3 que move, dota de ou gera movimento
    Ex.: energia motriz

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  4. Esse Bunda é burro mesmo.

    Mas é ele quem manda.

    Portanto, minha filha, vai cagar regra na puta que te pariu.

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  5. Anônimo11:20 PM

    Iiiiii! Parece que o Bunda, com o perdão da ironia, perdeu o rebolado ao ser defrontado com sua própria ignorância. Vale o aprendizado: uma mão no computador, outra no dicionário.

    O deslize, no entanto, não desabona o texto, que está irene. O Bunda voltou à temática do começo do blog, com muito cu, muito cocô e muitos apelidos escrotos para coisas sérias. Mandou bem!

    E tenho que concordar: Brasileirinha, vai cagar regra na puta que te Paris!

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  6. Anônimo10:27 AM

    Paga pau esse aí de cima.

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  7. Anônimo3:49 PM

    Gostei....

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  8. Anônimo1:55 PM

    agrego nos autos dos textos douro de meu computador.O bunda é o excremento mais fertil de uma geraçao que pasma, e vive no ostracismo.
    Só pra agregar em termos de dicionario, Enfezado tambem pelas vias do regionalismo pode significar Feito, como diria Adoniran; O samba na Casa Verde enfezou...segue o repique...

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