Faixa 1 da rodovia Ayrton Senna, km 67, próximo de Guarulhos, 10 de setembro de 2001, 22:42 hs...
Todo mundo já deve ter visto um animal atropelado. Na Raposo Tavares tem direto. Quem mora na Granja sabe. A carcaça fica dias e dias ao relento. Vai inchando aos poucos. Na segunda semana depois do óbito, tem-se a impressão de que não é mais um cachorro que foi atropelado, mas uma capivara. A carne muda de cor. Do vermelho, passa pro roxo, depois pro negro. A morte é contagiante.
Então, quando você já se acostumou a contemplar a mesma velha carcaça podre a caminho de casa, ela de repente desaparece. Arrastada pela chuva, recolhida pelos lixeiros ou desfeita pela decomposição, não sei. O fato é que simplesmente some como se nunca tivesse existido.
Voltando de um feriado em Ubatuba há algum tempo, tive o infortúnio de atropelar um bicho na estrada.
Na verdade, o que aconteceu foi o seguinte: uma outra pessoa havia acertado o animal. O corpo jazia estraçalhado na faixa 1 da Ayrton Senna numa noite de tráfego intenso. Devido à curta distância entre os carros, ninguém conseguia avistá-lo a tempo de desviar.
Cada um que passava contribuía um pouco para rolo-comprimir a carniça. Devo ter sido o décimo quinto automóvel a fazê-lo.
O acidente foi grave. O cara que atropelou o bicho primeiro rachou ele no meio que nem ovo. Vísceras espalhadas num raio de 15 metros pelo menos. Lembro que o pneu reproduziu um fino ruído de atrito ao ingressar nessa área, úmida de sangue fresco.
Conforme avançava, as peças de carne iam aumentando de tamanho e aos poucos revelando a verdadeira identidade daquela carcaça. Linguiça, costelinha, picanha, fraldinha e, então, pasmem: um tórax humano decapitado. E mais a diante, um par de pernas esmigalhadas.
Meus caros, o vômito imediatamente inundou minha goela. Encostei no acostamento pra respirar e desembrulhar o estômago. A no. 1 estva comigo. Ofereceu-se para dirigir. Eu mal conseguia falar.
No dia seguinte, conferi o jornal para saber detlahes do acidente. Nada. Aquela morte passou em branco. Assim como os cachorros da Raposo, que desaparecem sem deixar vestígio.
Um cocô, pior do que aqueles que se manda sexta à tarde após o almoço.
ResponderExcluirTá querendo me dizer que sua vida é cheia de emoção ? Parte pra ficção por completo. Assim num dá.
andré, aqui quem fala é paula manzo, fiz uns 2 semestres contigo no célia, sem lembra? menino..posso dizer que teu alter ego escreve muito bem. obviamente tem estilo e coragem. vou passar a te acompanhar e desde já está linkado ao meu recanto na world wide web...escrevo poeminhas. não tão divertidos, porém honestos.
ResponderExcluirum beijo.
que aventura hem bunda...
ResponderExcluirMeio cafona esse. Dramalhão. Acabaram suas histórias boas. Vai viver um pouco e depois volta aqui para contar.
ResponderExcluir"Aquela morte passou em branco" Parece frase final de reportagem da globo.
ResponderExcluirMais bunda impossível.