09 dezembro 2005

faixa 1


Faixa 1 da rodovia Ayrton Senna, km 67, próximo de Guarulhos, 10 de setembro de 2001, 22:42 hs...

Todo mundo já deve ter visto um animal atropelado. Na Raposo Tavares tem direto. Quem mora na Granja sabe. A carcaça fica dias e dias ao relento. Vai inchando aos poucos. Na segunda semana depois do óbito, tem-se a impressão de que não é mais um cachorro que foi atropelado, mas uma capivara. A carne muda de cor. Do vermelho, passa pro roxo, depois pro negro. A morte é contagiante.
Então, quando você já se acostumou a contemplar a mesma velha carcaça podre a caminho de casa, ela de repente desaparece. Arrastada pela chuva, recolhida pelos lixeiros ou desfeita pela decomposição, não sei. O fato é que simplesmente some como se nunca tivesse existido.
Voltando de um feriado em Ubatuba há algum tempo, tive o infortúnio de atropelar um bicho na estrada.
Na verdade, o que aconteceu foi o seguinte: uma outra pessoa havia acertado o animal. O corpo jazia estraçalhado na faixa 1 da Ayrton Senna numa noite de tráfego intenso. Devido à curta distância entre os carros, ninguém conseguia avistá-lo a tempo de desviar.
Cada um que passava contribuía um pouco para rolo-comprimir a carniça. Devo ter sido o décimo quinto automóvel a fazê-lo.
O acidente foi grave. O cara que atropelou o bicho primeiro rachou ele no meio que nem ovo. Vísceras espalhadas num raio de 15 metros pelo menos. Lembro que o pneu reproduziu um fino ruído de atrito ao ingressar nessa área, úmida de sangue fresco.
Conforme avançava, as peças de carne iam aumentando de tamanho e aos poucos revelando a verdadeira identidade daquela carcaça. Linguiça, costelinha, picanha, fraldinha e, então, pasmem: um tórax humano decapitado. E mais a diante, um par de pernas esmigalhadas.
Meus caros, o vômito imediatamente inundou minha goela. Encostei no acostamento pra respirar e desembrulhar o estômago. A no. 1 estva comigo. Ofereceu-se para dirigir. Eu mal conseguia falar.
No dia seguinte, conferi o jornal para saber detlahes do acidente. Nada. Aquela morte passou em branco. Assim como os cachorros da Raposo, que desaparecem sem deixar vestígio.

5 comentários:

  1. Anônimo5:14 PM

    Um cocô, pior do que aqueles que se manda sexta à tarde após o almoço.
    Tá querendo me dizer que sua vida é cheia de emoção ? Parte pra ficção por completo. Assim num dá.

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  2. andré, aqui quem fala é paula manzo, fiz uns 2 semestres contigo no célia, sem lembra? menino..posso dizer que teu alter ego escreve muito bem. obviamente tem estilo e coragem. vou passar a te acompanhar e desde já está linkado ao meu recanto na world wide web...escrevo poeminhas. não tão divertidos, porém honestos.
    um beijo.

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  3. Anônimo7:18 PM

    que aventura hem bunda...

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  4. Anônimo7:58 PM

    Meio cafona esse. Dramalhão. Acabaram suas histórias boas. Vai viver um pouco e depois volta aqui para contar.

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  5. Anônimo10:30 PM

    "Aquela morte passou em branco" Parece frase final de reportagem da globo.
    Mais bunda impossível.

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