05 dezembro 2005

a primeira entrada a gente nunca esquece


Uma época, morei na Rua Antônio Carlos, uma travessa da Augusta, ali perto dos cinemas do Unibanco. Um prédio simpático, apartamentos com varanda, que foi projetado nos idos dos anos 50 para atender a fins escusos. São sete andares do que hoje conhecemos pelo nome de kitchenettes. Naquela época, entretanto, quando o francês ainda ganhava do inglês no quesito "estrangeirismos pedantes que caem bem na boca dos babacas e dos publicitários", continha 14 garçonnières. Em suma, sempre foi o que em bom português se chama um pardieiro de putas e estudantes. Ou seja, um treme-treme.

Tinha um gorducho que morava no segundo andar. Costumava cruzar com ele no Pão de Açúcar da Consolação. Era viciado em refrigerante. Pelo menos três garrafas de Coca-Cola no carrinho, daquelas PET 2,5 L. Máquina de processar glicose. Apelidei-o de Quindim num dia de inspiração poética. Mas nunca cheguei a estabelecer contato direto com ele. Nem bom dia nem boa noite. Nada. Não sei bem porque... Quer dizer, sei sim... Deixo de lado a hipocrisia.

A verdade é que sentia pena do Quindim. Primeiro porque ele era gigante, lento e desajeitado como uma carreta e, segundo, porque tinha cara de bunda. Impossível não se compadecer com a sua expressão lânguida, tão característica de gente obesa, de sofrimento agudo em dia de sol. Os olhos esbugalhados lhe davam o ar frágil dos meninos que apanham na escola. O próprio Bozo do Nascido pra Matar (Full Metal Jacket, em inglês – aliás, que tradução de merda é essa?).

De certa forma, contudo, me identificava com ele. Como se o Quindim fosse a versão esculhambada de mim. Como eu, morava sozinho na artéria da cidade e sofria com isso. A solidão às vezes pega pra capar. Mas, ao contrário de mim, não conseguia boceta. Nenhuma. Nunca. Varava as noites esfolando o papagaio na internet, depressivo e alcoólatra de refri. Ao passo que eu estava num regime de sexo pelo menos três vezes por semana. Com garotas diferentes. Calhorda em grande estilo.

Até que descobri que o Quindim não só era bicha como masoquista. Queria morrer de pena. Imaginar aquele gorducho com cara de pétala sendo currado por trás e tomando palmada nas ancas me consumia de tristeza. Quem me disse foi o zelador do prédio. “Não agüento mais esse viado gemendo no meio da noite que nem boi no cio. Você precisa ver as coisas que ele fala pros nego dele. Um dia ainda subo lá e encho de porrada”. Devia mesmo ser o inferno morar debaixo de uma bicha masoquista de 120 quilos. Em especial, porque não tinha como reclamar. Se um dia ele cumprisse a promessa de fato e batesse na porta do Quindim com a intenção de arrebenta-lo, provavelmente seria convidado a passar o resto da semana na função de troglodita. O pesadelo em dobro.

Anos depois, me enfiei num cine 24 horas da rua Vitória. Estava realizando uma pesquisa pra uma oficina teatral com o pessoal do Vertigem. O tema era perversão sexual. Fomos eu, o Valdir Grillo e uma outra atriz cujo nome não lembro.

Passeando pelas tétricas salas do cinema – tratava-se de um complexo de quatro andares escuros e escorregadios, dos quais o terceiro era a sala de projeção –, me deparo com uma imensa massa amorfa chacoalhando num canto. O lugar é bizarro e oleoso; lembra o Rectum do Irreversível – gente trepando pra todo lado, pica a dar com pau. O terremoto humano, ia dizendo, me chamou a atenção como um deja vu. Observei com mais cuidado. Pasmei. Não deu outra: era o Quindim. De quatro, tomando palmada nas ancas e gemendo que nem boi no cio.

Nunca tinha visto dois caras trepando ao vivo nem nunca tinha visto ninguém trepando naquela intensidade furiosa. Os tapas reverberavam no ar como estalos de chicote. Curioso que não senti pena do Quindim. Ele tirava um prazer sincero daquela surra. Gemia era de júbilo e tesão, não de dor.

Enfim, foi dessa situação grotesca, mas ao mesmo tempo sublime, que tirei a inspiração para elaborar minha cena pra oficina e agora pra inaugurar essa página dedicada ao grotesco.

A primeira entrada a gente nunca esquece.

23 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Bunda, você é nojento. Paga de pornógrafo mas não passa de um moralista. Vai logo certificando o leitor de que você é espada: "Mas, ao contrário de mim, não conseguia boceta." Seu estilo é fraco. Do ponto de vista moral, você é auto-indulgente. Vai continuar sendo o publicitário-bloggeiro que você deve ser. Vai continuar comendo boceta e provando sua masculinidade para o resto da classe média que você finge desprezar.

4:42 PM  
Anonymous Anônimo said...

deeeeeeeeeeeee
nu cu nu cu!!

5:10 PM  
Anonymous Anônimo said...

andre cortez...
se um dia estires com saudades de mim venha me ve!

5:11 PM  
Anonymous Anônimo said...

bibi

5:11 PM  
Anonymous Anônimo said...

AAAAAAAAAAAAH! QUE TUDO! xDDDD
Adorei seu blog, meu primo insano! Vc tem mesmo caramiolas muito interessantes na sua cabeça!!!
Continue escrevendo, assim eu posso me dar ao luxo de ler coisas realmente boas toda semana!

BEIJO NA (quer dizer... NO) BUNDA!

(_Y_)
:*

11:27 AM  
Anonymous Anônimo said...

nada de novo.

12:21 PM  
Anonymous Anônimo said...

A grande Miriam Muniz dizia que
todo homem (ator) com essa "mentalidade bunda" deveria dar o cu pra relaxar, pensar melhor. Porque se sentir superior ao "Quindim"?
Queima essa rosca cara!

9:37 AM  
Anonymous Anônimo said...

"A grande Miriam Muniz..."! Ah!Atores e suas referências autocentradas. Morram vocês todos! Morram os atores, as atrizes e seus umbigos fétidos!!! O dia em que os filmes serão feitos inteiros no computador está chegando. A raça maldita perecerá! Teatro, então, já deveria ter acabado desde há muito. Nada existe de mais contrangedor e chato. Não quero ouvir a respiração de ninguém, nem sentir o cuspe na minha cara, muito menos interagir com essa pantomima pueril que são as "artes dramáticas". Morram, morram e morram!!! Parem de influenciar o meu Bundinha. Ele é escritor de talento, não é palhaço! Saiam da bota, seus inúteis ignorantes! "Not to be" é a única saída para vocês, atores. E essa bichona do comentário aí em cima ainda quer enrabar meu amigo, pode? Dá pra ele e passa hpv, André!

1:47 PM  
Anonymous Anônimo said...

Esse amaury(credo,que nome mais bunda!) deve sofrer da sindrome do
"penis minusculus")...
Respire um pouco de ar puro...
De o cu...
Vai visitar o Maluf!
Jante com a Bucicleide!
Viva! Morrer p/voce seria um privilegio!

1:57 AM  
Anonymous Anônimo said...

Desconheço essa síndrome. Quer vir aqui em casa me mostrar?

12:30 PM  
Anonymous Anônimo said...

alto nível, heim! tanto nos textos quanto nas discussões que eles despertam. Teatro é de fato anacrônico, vai, quem há de negar. Mas literatura boca do lixo também em nada inova, então nem o choque de um pinto mole no palco nem achar que tratar da classe média e de coçeira no cu trazem alguma coisa de novo. e eu gastando saliva, nada pra fazer mesmo!

3:25 PM  
Anonymous Anônimo said...

"Mas literatura boca do lixo também em nada inova, então nem o choque de um pinto mole no palco nem achar que tratar da classe média e de coçeira no cu trazem alguma coisa de novo."

Então, qual a solução? Não comentar os textos, já que não inovam? Você, covarde sem nome, poderia começar dando o exemplo.

4:14 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bom, então vou começar. Essa temática é boba. Ponto. E acredito que inovação começa pela linguagem, pela estrutura. O choque vem daí, vem de uma reformulação da forma de transmitir idéias, de se posicionar, de tratar das coisas do mundo e das coisas do homem, da inteligibilidade, da consciência e do corriqueiro. Proust, Joyce, Guimarães, Beckett, Virginia Woolf, Katherine Mansfield e assim por diante. Ou você revoluciona na forma ou fica estéril e não tem beleza. Ah, acredito que o que importa aqui é vender, e não, sendo assim, não vende.

5:06 PM  
Anonymous Anônimo said...

Não! Não! Não! Você está errado(a) nas suas impressões sobre o intuito do blog e nos seus preconceitos estilísticos burgueses. "Revolução na forma" é valor bastante delimitado no tempo, pós-Revoluções Burguesas, ligando-se à "arte de autor" dos séculos XIX e XX. Isso não é verdade absoluta e atemporal, como você pretende impor.

Guimarães?! Joyce!!? Proust!!!? Oh lá lá! À “La recherche du temps perdu: du coté de chez mon cul”! Alons y!!! De onde você tirou que o Bunda tem essa pretensão? Eu também não sei se ele tem, mas não me julgo capaz de decidi-lo por ele.

Mas o que mais me impressiona em seu comentário não é nem tanto a pretensão (que dá raiva), mas essa necessidade (que dá pena) de ser uma Woolf, uma Mansfield. E dá pena porque é um sentimento típico da pequena-burguesia que, desfavorecida no nascimento, tem que pelejar para sobreviver. O espírito de competição é sua alma e sua única garantia de dormir com a barriga quentinha.

O aristocrata não precisa disso. Pode escolher entre produzir arte, guerrear, fazer política e caçar, coçar e participar de umas orgias. O Bunda é o lumpen-aristocrata. É o “barão da ralé”.

10:07 PM  
Blogger José Ninguém said...

Caro anônimo, recomendo-lhe a leitura da Gaivota, do Tcheckov.

Há uma intensa discussão a esse respeito na última cena, antes do suicídio.

Aqui no Buraco, o negócio do Bunda é língua na papa e dedo no cu.

11:05 PM  
Anonymous Anônimo said...

Acho que esse Amaury e uma Ivete
Sangalo patrocinada pelo Bunda!!!
Caro "Loveury", tente dieta de fibra.
A constipacao intestinal deixa mesmo o cara "Enfezado"

9:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Sim! Estou guardando quilos de cocô nas minhas vísceras para despejar na sua cara, ator.

9:25 AM  
Anonymous Anônimo said...

Bom, Amaury, a verdade atemporal é que esses textos são ruins e você mais arrogante que eu. Na realidade eu não acho que ele tenha essa pretensão, a questão é se autointitular: escritor. E eu fico com medo pelo ridículo. Sabe quando você sente vergonha pelos outros? É, por exemplo, teatro, briga de homem velho, gente cafona, português mal falado, sunga, remela no colega de trabalho. Tenho a ligeira impressão que você concorda comigo. Todo esse papo de aristocracia falida que mantém no ócio uma produção intelectual e blá blá blá, vai trabalhar, mané. Esse papinho é de gente que desconhece o sórdido tantas vezes tratado nesses textos.

1:56 PM  
Blogger José Ninguém said...

Caro anônimo, sobre o português mal falado, favor reler "Evocação do Recife" do Bandeira.

Há uma passagem célebre nesse poema que trata justamente de "macaquear a sintaxe lusíada".

Guarde para si a sua vergonha. Também sou ator. Tem gente que faz papel de idiota na vida real.

Se quiser me julgar por outros trabalhos acesse o blogo "sério" deste Bunda que vos fala.

Em breve...

4:28 PM  
Anonymous Anônimo said...

É, ator anônimo, tenho que concordar que essas coisas também me dão vergonha pelos outros. A exceção é o tal "português mal falado", que a lingüística moderna progressista considera uma contradição em termos, além de preconceito raso (ler Marcos Bagno, Carlos Alberto Faraco, Pedro Garcez).

Napoleão Mendes de Almeida, que se auto-intitulava o grande conhecedor da língua, pensava de forma (autoritária) parecida com você. O gramático, que não se avexava de prescrever como a língua deveria ser usada por seus falantes nativos - tendo por molde modelo irreal -, chegou a escrever que Machado de Assis era "fraquinho em português" e que Guimarães Rosa "não conhecia a língua". Para Napoleões, nada mais natural que se crer dono da língua e da verdade. Paciência! Continue aí vivendo a vergonha de ser pequeno-burguês e mate-se de esforço para sair desse Buraco.

8:24 PM  
Anonymous Anônimo said...

festival de "dandis"... bem, sinto que vcs dois discutem pela paixão ferina que sentem pelo autor. Além de quererem demonstrar a exuberânica de seus egos e conhecimentos. troquem e-mails, vai...

12:06 AM  
Anonymous Anônimo said...

por que as pessoas têm tanta pena dos gordos e dos bichas?

1:05 PM  
Anonymous Anônimo said...

Que nivel, hein?

...e eu aqui do outro lado do planeta, comeco a sentir saudades
do Pedro Bial!!!

9:34 AM  

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