07 dezembro 2005

lesma com rúcula


Certa tarde de domingo, no famoso restaurante do Itaim, servi uma salada de folhas sortidas para uma jovem senhorita de cabelos dourados. Depois de me alugar por quase 15 minutos com perguntas cretinas a respeito dos molhos das massas e gradações dos pontos da carne, acabou optando por uma "fresh salad, assim, super básica".

Soltou a frase com um imenso sorriso estampado na cara cor de cenoura e se desculpou pela demora. Mas nem mesmo a sua simpatia, contagiante especialmente na altura dos seios rijos como acrílico, foi capaz de refrear a minha cara de bunda. Abandonei a mesa dela ligeiro, de um jeito displicente que considerou "ultra grosseiro". Sem querer, tinha me arrumado mais um desafeto.

Os finais de semana num restaurante como esse em que trabalhei não são brincadeira. A classe média tem mania de impaciência. Porque estão pagando, acham que o mundo tem que funcionar do jeito deles.

Simples assim: os subalternos que se fodam pra resolver viadagens minuciosas como suco de melancia com limão, sem gelo e batido com adoçante em gotas, conter a criançada estragada - verdadeiros terroristas da Al Qaeda - driblando pratos e copos a mil por hora e atender às exigências da vovó Guiomar, alérgica a aspargos frescos e creme de leite.

Que se fodam todos porque o cliente tem sempre razão.

Obviamente, a salada da loira de tetas incríveis levou quase 20 minutos para ficar pronta. Já reclamara três vezes e não parava de me olhar feio toda que vez que passava rente. Quando finalmente chegou o prato, deixei-o na frente dela junto com uma porção de queijo de cabra e outra de pãezinhos frescos. “É por conta da casa e desculpa de novo pela demora”, disse e respirei aliviado. Ela sorriu. Achei sinceramente que meu gesto de bondade havia me redimido.

Não fosse um incidente inesquecível, teria razão. Um grito estridente de repente varou o salão. A loira estava fora de controle. Agitava os braços no ar, vermelha que nem tomate. Exigiu que eu fosse ter com ela imediatamente e me presenteou com o maior espinafre da minha vida. Um espetáculo público dedicado a todos os outros clientes presentes, para que soubessem quem era o filha-da-puta responsável pelo desconcerto do mundo.

O motivo: uma lesma. Sim, havia uma lesma na rúcula da loira. E o culpado era eu. Na cabeça dela, eu tinha colocado o bicho ali de propósito. O gerente foi intimado em seguida. Desculpou-se redobrado e ofereceu-lhe outro prato como cortesia. Mas o barato ali não era o almoço em si, mas a maneira mais escrota de me humilhar. Ouvi quase todos os xingamentos listados no Aurélio.

Apesar de tudo, não levei o desaforo pra casa. A vaca provavelmente nunca tinha visto um escargot na vida, mas devia achar a iguaria deliciosa. Por que? Simplesmente porque se trata de uma lesma francesa.

Em outras palavras, a condição asquerosa da lesma, assim como de qualquer outra coisa, desaparece em função da sua origem. A classe média tem dessas: leva ferro desde que seja ferro importado.

Doce vingança do acaso: a tetuda engasgou num pedaço de lesma e eu fui dispensado mais cedo.

10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

But, nesse ritmo vc vai sair da classe média e vai para a classe pobre, morar na boca do lixo e ter vista para o minhocão. Aliás, falando em lesma e afins, cê curte ver o minhocão ?
Essa loira de seios fartos devia ser uma anta, como muitas que conhecemos por aí.

9:21 AM  
Anonymous Anônimo said...

HAHAHAHAHAHAHA agora me fala que isso é um relato real, só pro meu dia ficar ainda mais divrtido.
gostei do Blog, André.
Boa sorte na empreitada ;)
bjos, Hélen.

9:31 AM  
Anonymous Anônimo said...

Tomo a liberdade de me expressar pelo André, de quem aliás sinto muita saudades. Não só este fato é real como se repetiu algumas outras 2 vezes no mínimo, realmente quando estamos a lembrar dos ocorridos no restaurante famoso parece uma época light e divertida, vou ficar com as lembranças. E mais, os textos são muito bons e bem escritos. um puta abraço, João.

10:19 AM  
Anonymous Anônimo said...

Pois eu achei esse último texto uma bela porcaria! O "Quindim" era genial. Saboreei com a mesma volúpia com que o gorducho deve chupar as costelhinhas de porco do "Boi na Brasa", a churrascaria oficial da bicharada ("Gostas de espeto? É Boi na Brasa!")
Aquele do bidê era bom também, tendo grande apelo junto ao público adepto do fiofó cheiroso (no qual, aliás, inclui-se este escriba). A sacada do acento no cu foi magistral.
O "oxiúros" era engraçadinho também, mas só.
Esse último é capenga. A situação é inteira forçada, inverossímil. A loira tetuda é um clichê cansado. A analogia escargot/lesma do prato é vulgar. É o velho preconceito ignorante dos que zombam no requinte por não poder compreendê-lo. Não combina com a nonchalance do Bunda perante a vida. O Bunda é sujo, mas é chic!

11:24 AM  
Anonymous Anônimo said...

HAHAHAHHAHAHHAAHHAHA!!!!
Que lindo!!! xD

Uma vez apareceu um verme branco e gordo no meio dos brócolis da minha amiga no Viena. Pior que ele ainda tava com a "carinha" (ou cu, sei lá né?) olhando pra gente, hahahahaha!

11:39 AM  
Anonymous Anônimo said...

bobalhão, vê se melhora as histórias... se você não gosta de ser garçom, senta no pudim, porque a vida é assim: viado que é viado tem grana e bota a banca, e você, meu amigo, pode no máximo comer a filha dele.

1:18 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bocejo...bocejo...

9:43 AM  
Anonymous Anônimo said...

Voce deve ser um daqueles 'bundinhas
rosadas' que passam dez anos na USP
cacetando o governo e analizando a
classe miseravel do Brasil, que esta mais do que nunca uma "BOSTA".
Use esse seu "intelecto" pra tentar
melhora-lo...

9:56 AM  
Blogger José Ninguém said...

Na verdade, 2006 será meu 6o ano de FFLCH.

Ainda não criei presunção o bastante para me arriscar a corrigir o Brasil.

Meu projeto mais ambicioso no momento é abrir um outro blog dedicado à literatura "séria".

Alguém sugere um nome?

1:01 PM  
Anonymous Anônimo said...

Verdade!
Melhorar este pais com uma atitude
assim,seria o "OH" da fina-flor...
Nao seja defensivo, aceite criticas!

9:13 AM  

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