a volta do malandro
Nesta vida, o tempo passa rápido. Lá se vão dois anos desde o último textículo. A natureza, no entanto, é estática. Como rezam o ditado e a empolgante canção da ex-banda de Carla Perez: pau que nasce torto, nunca se endireita. Tornei-me servidor público; “alto funcionário” do Governo federal. Tenho um salário e uma rotina em Brasília. Burocrática, sem dúvida, mas enfim posso dar-me o luxo de ir ao supermercado e comprar queijo maasdam e vinho do Porto, dois caprichos que outrora me custavam o dinheiro que não tinha. Meus amigos agradecem imenso - finalmente tenho para custear a cerveja de quinta-feira. Aqueles que se diziam amigos não perdem a oportunidade de cobrar-me antigas dívidas que a verdadeira amizade teria tratado de prescrever. Que seja - quem não teme, não deve. A tão almejada estabilidade financeira, situação gozada apenas pelos definitivamente empregados - carteira assinada e dinheiro aplicado -, chegou. Todos os dias, saio de casa engravatado para o trabalho. Por baixo do terno e do orgulhoso aspecto típico dos recém admitidos diplomatas, misto de executivo prodígio com intelectual humanista, o bom e velho bundão. Como disse, a natureza das coisas e das pessoas não muda. Nem perdoa.
Acabo de regressar do primeiro ensaio daquele que virá a ser o mais irreverente bloco carnavalesco de Brasília. Os chegados da repartição tiveram a espirituosa idéia de lançar uma banda de sambas e marchinhas para tornar a idéia de estar condenado à Capital Federal para o resto da vida profissional menos insuportável. Produzimos um barulho terrível, mas bastante animado para uma tarde de sábado chuvosa. Unidos pela alegria e pela batucada, tomamos muita cerveja e comemos muito fandangos. A diversão pode ser simples como bater papo à varanda da casa, diante da piscina com cascata e do jardim meticulosamente aparado. Começo a entender o prazer de alguns em passar a tarde com os amigos da faculdade, diante da grelha em brasas e imerso no dialético debate sobre a santa trindade - mulheres, futebol e cachaça. Afinal, participar de uma banda de samba me torna mais um partícipe daquele abominável universo mental do playboy da Zona Oeste de São Paulo? A princípio, sim. O Rio de Janeiro, porém, há de redimir-me.
1 Comments:
bunda is back!
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