04 abril 2009

a volta do malandro


Nesta vida, o tempo passa rápido. Lá se vão dois anos desde o último textículo. A natureza, no entanto, é estática. Como rezam o ditado e a empolgante canção da ex-banda de Carla Perez: pau que nasce torto, nunca se endireita. Tornei-me servidor público; “alto funcionário” do Governo federal. Tenho um salário e uma rotina em Brasília. Burocrática, sem dúvida, mas enfim posso dar-me o luxo de ir ao supermercado e comprar queijo maasdam e vinho do Porto, dois caprichos que outrora me custavam o dinheiro que não tinha. Meus amigos agradecem imenso - finalmente tenho para custear a cerveja de quinta-feira. Aqueles que se diziam amigos não perdem a oportunidade de cobrar-me antigas dívidas que a verdadeira amizade teria tratado de prescrever. Que seja - quem não teme, não deve. A tão almejada estabilidade financeira, situação gozada apenas pelos definitivamente empregados - carteira assinada e dinheiro aplicado -, chegou. Todos os dias, saio de casa engravatado para o trabalho. Por baixo do terno e do orgulhoso aspecto típico dos recém admitidos diplomatas, misto de executivo prodígio com intelectual humanista, o bom e velho bundão. Como disse, a natureza das coisas e das pessoas não muda. Nem perdoa.


Acabo de regressar do primeiro ensaio daquele que virá a ser o mais irreverente bloco carnavalesco de Brasília. Os chegados da repartição tiveram a espirituosa idéia de lançar uma banda de sambas e marchinhas para tornar a idéia de estar condenado à Capital Federal para o resto da vida profissional menos insuportável. Produzimos um barulho terrível, mas bastante animado para uma tarde de sábado chuvosa. Unidos pela alegria e pela batucada, tomamos muita cerveja e comemos muito fandangos. A diversão pode ser simples como bater papo à varanda da casa, diante da piscina com cascata e do jardim meticulosamente aparado. Começo a entender o prazer de alguns em passar a tarde com os amigos da faculdade, diante da grelha em brasas e imerso no dialético debate sobre a santa trindade - mulheres, futebol e cachaça. Afinal, participar de uma banda de samba me torna mais um partícipe daquele abominável universo mental do playboy da Zona Oeste de São Paulo? A princípio, sim. O Rio de Janeiro, porém, há de redimir-me.


O Presidente do bloco, alcunhado “Eternos nesta Brasila” por conta de um vídeo que há muito circula no youtube e retrata um jovem ator global, astro de malhação, dizendo abobrinhas durante festa da high society brasiliense, enriquecida por meio de esquemas de grilagem e corrupção, é carioca. Cariocas também são os homens do tamborim, do pandeiro e do surdo. Ora, se Vinícius de Moraes chamou São Paulo de túmulo do samba não foi à toa. O samba nasceu com o Rio de Janeiro: a cidade é a pátria de todos os mestres desde Noel. O que seria do Bola Preta no fogo cruzado de motoboys da Avenida Paulista? O que seria da Banda de Ipanema na Marginal, desfilando loucura às margens do Rio Pinheiros? Quando um grupo de playboys paulistanos reúne-se com pretensões carnavalescas não se pode esperar mais do que uma solução trivial para cativar a atenção daquelas menininhas que se formaram no colégio junto com eles, mas ainda não foram fisgadas pelo anzol dourado do casamento perfeito. Aqui a coisa é distinta. Meu recente envolvimento com o tamborim explica-se pela empolgação coletiva e de sotaque inconfundível que marcou um almoço de sexta-feira há algumas semanas. Participar do bloco é quase um pressentimento, como tantos outros que vez ou outra perturbam meus pensamentos. Em fevereiro do ano que vem, espero celebrar meu último carnaval no Brasil antes de uma longa década de trabalho e reflexão no exílio. Que seja ao som do tamborim e entre bons amigos sambistas de verrrdade.

1 Comments:

Blogger Felipe Sant'Angelo said...

bunda is back!

6:49 PM  

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