07 outubro 2006

desbunde à la conga


Nos anos 1980, ela atingiu o auge de sua carreira como cantora com os hits "Freak Le Boom Boom", "Conga Conga Conga" e "Melô do Piripiri". Hoje, aos 47, Gretchen tornou-se atriz, estrela do longa-metragem La Conga Sex, que deverá ser lançado em novembro. O filme, produzido pela Brasileirinhas, promete picantes cenas de sexo explícito.

Mal posso esperar. Gretchen, como Pelé, é praticamente uma logomarca da cultura de massas brasileira. Um mito. Só que no caso dela, também um mito político. Gretchen foi a criadora da mais sublime forma de protesto político, que, através do fio dental, contestou a tradição e todos os costumes reacionários da moral autoritária. Na Alemanha de Karl Marx, falava-se em vanguarda revolucionária; no Brasil da Mãe Joana, falamos em retaguarda incendiária. Gretchen, no campo da cultura popular, encabeçou o movimento de abertura pós-regime militar.

A década de 1980 foi tempo memorável: além de Gretchen, havia Xuxa, Menudos, Titãs, Paralamas, Trapalhões, jogo do bicho, José Sarney e vários outros carnavais. Uma das maneiras que o país encontrou de exorcizar a censura imposta por tantos anos pela ditadura foi o desbunde. Esta curiosa expressão, que a língua lusitana incorporou do quimbundo, é usada aqui e em Angola para designar estados profundos de êxtase e/ou deslumbramento. De fato, nada foi mais arrebatador e subversivo do que ver a Gretchen sacudir a poupança em rede nacional. Sem sombra de dúvida, ela foi a rainha do desbunde.

Infelizmente, a lógica do capitalismo dá vida curta às manifestações autênticas de cultura. Atentos aos lucros fáceis que a nudez feminina poderia proporcionar a curto e longo prazo numa nação afeita ao futebol, à cerveja e às estripulias eróticas, empresários e produtores trataram de apossar-se do desbunde, esvaziando-o de seu conteúdo explicitamente político. Assim, o que antes era uma modalidade tropical&radical de protesto transformou-se no lugar comum das tardes de domingo e noites de todos os outros dias da semana. As loiras e morenas do axé nada mais são que subprodutos da cultura revolucionária dos anos 1980; distorções grosseiras – ainda que deliciosamente carnudas – da esquerda brasileira.

Há um quê de nostalgia infantil nessa nova superprodução cinematográfica, La Conga Sex. Lembro de cada uma das canções da Gretchen; até hoje elas animam as pistas de dança e embalam a loucura da minha precoce geração, nascida entre 1978 e 1983. Porém, sinto também que “ímpetos políticos” motivam-me a adquirir o filme, quase como se assistir a ele fosse o dever cívico de participar de uma passeata ou manifestação - a mais promíscua manifestação de todos os tempos. Falem a verdade: quem é que não vai até a banca comprar o DVD ou baixa-lo pela internet?

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Em terra de bunda, a Gretchen é a rainha.

3:14 PM  
Anonymous Anônimo said...

Tem punheta política?

4:23 PM  
Anonymous Anônimo said...

O Bunda já me confessou: "A Gretchen me instiga"

3:07 PM  

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