07 abril 2009

bunda is back!


De fato, Bunda is back. O novo textículo ficou apenas um fim de semana no ar, e já tenho o prazer de degustar um comentário - breve, mas elogioso. Ora, todos gostamos de ser o centro das atenções. Em particular os bundões, que, se não se expõem ao ridículo, ao escárnio de todos, passam integralmente despercebidos, como aparelhos de TV em tardes de domingo. Bundões falam sozinhos, para as paredes. Prestar-lhes atenção é o mesmo que notar algo fora do lugar ou fora de sintonia. Saudações a todos que voltam a se aventurar neste buraco negro.

Passei o almoço de hoje em estado de autismo. Fui convidado pela minha chefe para sentar à mesa junto com funcionários de terceiro e quarto escalões do Ministério vizinho ao nosso e de uma das agências governamentais sediadas no Rio. Predominaram conversas relacionadas a processos burocráticos, ponderações acerca do papel do Estado como fomentador de micro e pequenas empresas e os habituais gracejos sobre a canalhice que corre solta nos Poderes Legislativo e Judiciário. Acompanhei esses tantos assuntos do mesmo bunker de onde degustava, com perplexidade e desconfiança, a comida natural que rendeu ao cardápio do restaurante o direito de ostentar preços, no mínimo, indecentes. Brasília é uma cidade no litoral do lago Paranoá - daí a mania carioca de saúde, magreza e pele cor de cenoura. Restaurantes naturais fazem bastante sucesso nesta praia. Prosperam. Fui incapaz de me engajar na conversação que se desenrolava diante de mim. Já experimentei sensação semelhante no teatro, ao assistir a peças que não me disseram nada ao espírito. Não é por falta de compreensão do que está sendo dito. Tem a ver com uma modalidade de tédio que não é bem tédio, mas completo desinteresse por aquilo que eu poderia dizer caso quisesse dizer algo. Melhor olhar através das palavras, decifrar os pensamentos e as neuroses que os dedos e os ombros das pessoas não sabem camuflar.
Escritores são retratados como autistas nos filmes porque escrever exige mesmo um bom bocado de autismo antes da labuta com a caneta e o teclado. Na vida real, porém, compartilhar refeição com alguém assim é disperdiçar uma hora e meia do dia na companhia de um completo babaca. Não se fazem mais literatos como na ficção de antigamente, apenas bundões e prepotentes orgulhosos.

Acordei do transe quando o garçom me abordou com a máquina do Visa e com a informação de que lhe devia 44 reais e 70 centavos, com serviço. Paguei no crédito para não ter que me deparar com trouxinhas de berinjela recheadas de
cream cheese (crim xisi) e tomate seco até o mês que vem.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Muito bom!! Muito bom mesmo!!! Parabens pelo texto!!
Desculpe-me!! Mas estive por aqui lendo e aprendendo com o seu blog! Abraço Ademar!!!

12:07 AM  

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