26 janeiro 2006

Loló a pique


15 metros separavam-no do Paraíso. Apenas 15 metros, não mais que isso. Uma distância ínfima, mas ao mesmo tempo, dadas as circunstâncias, instransponível.
Até respirar era difícil em meio à multidão de pessoas que dançavam freneticamente, falando alto e suando em bicas. Ao fundo do bar, uma banda de samba rock arriscava mais uma das canções do Tim Maia Racional. O vocalista, um japa com cara de técnico em informática, liderava a animação. Empolgado com a resposta positiva do público, resolveu se empetecar com um óculos de sol. Agora, parecia um hacker. Com ele ninguém podia, nem o Mick Jagger.
A cabeça de Loló pesava-lhe nos ombros mais que o normal, entorpecida de maconha, álcool e agora pela neblina formada pela fumaça dos cigarros. A música também não lhe estava fazendo bem. O japa de óculos escuros era a prova cabal de que havia se enfiado numa imensa roubada. Uma noite de sábado em lugares como o Moai ou o extinto Sem Eira Nem Abilene pode ser mais cruel que uma temporada no porão do DOPS - um suplício físico além de financeiro.
Algo não ia bem nas entranhas de Loló. Seu estômago roncou como se alguém o tivesse torcido. Uma dor indescritível imediatamente correu-lhe a espinha e uma gota de suor frio escorreu pela sua têmpora. Aquele era o aviso de que o barraco de pau-a-pique ia, literalmente, cair. E a única solução para o seu grave problema era vencer a barreira humana que bloqueava o acesso ao water closet. O segundo chamado seria definitivo.
Atordoado, Loló só conseguia pensar em duas coisas: na intensidade da dor que lhe corroía as entranhas e no instante glorioso da sua coroação, quando, vitorioso, ocupasse o trono da casa noturna. Embrenhou-se na multidão, mas não conseguiu dar mais do que cinco passos. A pressa fez com que sua pressão caísse radicalmente.
Já sem forças, Loló apoiou-se no ombro de seu amigo Wiley e anunciou, "me segura que eu vou desma..."
Quando acordou, Loló estava olhando para um fio de água correndo rente à sarjeta. Não sabia mais onde estava nem o que havia acontecido. Seu pescoço estava travado, duro como rocha. A visão e os demais sentidos ressucitaram aos poucos, mas foi o olfato que despertou primeiro, estimulado pelo vapor inconfundível de merda humana. Os olhos de Loló localizaram a origem da lofa: vinha de dentro das suas próprias calças que, reparou só então, estavam encharcadas de mijo.
Assim que tomou consciência de que havia se cagado inteiro e fora carregado para fora da balada como um morto, Loló levantou-se num salto. Ou melhor, levantou-se o mais rápido que pode, tomando cuidado para que a carga pesada não escapasse da cueca e escorresse pelas pernas. Sem se despedir dos amiguinhos que o olhavam com um misto de asco e espanto, "correu" até o carro e partiu.
Um manobrista cheio de graça chegou a perguntar se ele havia perdido as pregas, mas Loló não se dignou a responder. Todo fodido, ainda tinha outro probolema para solucionar: como dirigir até em casa sem apoiar a busanfa emporcalhada no assento do motorista.

12 Comments:

Blogger José Ninguém said...

Que fique bem claro: bunda e loló são duas coisas distintas.

5:48 PM  
Anonymous Anônimo said...

Mas ambos são repulsivos.

6:49 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nossa , nessas horas é melhor mesmo estar inconsciente...

A vida é assim mesmo, quando menos se espera acontece alguma merda, e nem adianta estarmos preparados para isso, porque para algumas coisas que acontecem não há o que fazer ...

Correr, gritar, .. não adianta...é fechar os olhos e esperar a bagaceira...sinta-se à-vontade para desmaiar sinta-se à-vontade para gritar e chorar....

O barato da vida é que ela nos da a oportunidade de nos recompormos , em todos os sentidos... e aprendermos no futuro a lhe dar com outras possíveis merda ....

Acordar e ver a merda feita, e tocar o barco...
Continuar.... no pique ....
Claro, que limpo...

Bom texto cara, alias ótimos textos
Boa semana

8:32 PM  
Anonymous Anônimo said...

Já diria o rapper:

"Vc que cagou fora,
Pq não cagou dentro ?
É a bunda que tá torta
Ou o cu fora do centro?"

Que lixo as estrofes!É a tradução de uma rap italiano

O Bunda tem uma relação intensa com a merda humana. Queria entender pq.

11:12 AM  
Anonymous Anônimo said...

Texto denso.
parabéns.

3:48 PM  
Anonymous Anônimo said...

bunda mole

6:38 PM  
Anonymous Anônimo said...

La Jota - essa puta - está coberta de razão. A temática escatológica já deu no saco. Bunda mostra-se um adolescente fascinado por cocô, sexo e droguinhas. A trinca sagrada do humor vulgar da playboyzada. Cresça, Bunda! Use seu talento e escreva algo mais criativo. Três meses batendo na mesma tecla bastam.

12:21 PM  
Blogger malvinas said...

ui, coitadinho, acabou com o rapaz...

11:33 PM  
Anonymous Anônimo said...

Comecei a escrever já arrependido. Falta sinceridade nessa narrativa porca. Que trazes tú, fora a merda de seu cú?

2:19 PM  
Anonymous Anônimo said...

Caralho, e eu achei que vc tivesse mais branco que leite porque a pressão caira. Nem imaginava a agonia. Ainda bem que não fui eu que te levei para fora, foi o Jojotão. Coitado...

1:21 PM  
Blogger José Ninguém said...

Otelo, a classe média não tem vez no buraco: CU NÃO TEM ACENTO!

3:14 PM  
Anonymous Anônimo said...

"Tu" também não tem acento. A regra é assim: as oxítonas só levam acento se terminadas em a/e/o! Para lembrar:"Pá, pé, pó!" As palavras monossílabas são, para todos os efeitos, oxítonas.

7:53 PM  

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