trilogia suja das BR´s - episódio 2
Era uma vez o ano de 1996 e o segundo colegial. Naquela época remota, namorava a inesquecível número 1. Ao invés de estudar, jogar futebol e me aventurar nas baladas de forró como o resto dos meus amigos, dedicava todo o meu tempo e todas as minhas energias a alguém que não me amava. Não há nada mais bunda mole que o romantismo aos 16 anos.
Um dia, durante as férias de julho, a número 1 me convidou para passar um feriado em Campos do Jordão com ela e com a família. Lá fui eu aproveitar a pequena Suiça da classe média paulistana - passear à sombra dos plátanos, tomar cerveja artesanal no centrinho (nada no universo é mais suburbano e guarujento que o conceito "centrinho") e jogar (mini) golf.
A única recordação que tenho dessa viagem é o dia da minha partida. Não que eu tenha detestado todo o resto, é que algo extraordinário (e trágico) ocorreu nesse dia fatídico...
Indo para a rodoviária, senti uma fisgada mortífera no estômago. A mãe da número 1 estranhou meu silêncio repentino. Desconversei dizendo que só de pensar na volta às aulas sentia calafrios. (Eu pensava mesmo era no "chiquérrimo" fondue de queijo da noite anterior e maldizia do fundo das vísceras essa mania culinária da classe média, que gosta de passar frio pois se sente em clima temperado).
Assim que chegamos, corri a procura do banheiro, mas o encontrei em frangalhos e desprovido de papel higiênico (argh!). A situação era gravíssima: eu estava virando do avesso, meu ônibus estava prestes a sair e não podia pegar o próximo. Por que? Simples: como ficaria a minha dignidade se dissesse para a número 1 na frente da mãe dela, "amorzinho, vou no carro das 11:30 porque tô quase me cagando nas calças"?
Agradeci a hospitalidade, selei a despedida com um beijo e embarquei. Sentei na minha poltrona e comecei a rezar. Assim que o ônibus começou a descer a serra, senti outra fisgada. Aquele era o último aviso antes do desastre. Perguntei ao motorista quanto tempo faltava até a primeira parada. Ele respondeu que a primeira parada era a única parada: São Paulo. Uma lágrima escorreu do meu olho. Ele reparou e se compadeceu da minha miséria. Encostou o ônibus no acostamento e aconselhou à boca miúda, "tem uma canaleta atrás daquelas moitas".
Desci do veículo e abri o porta malas já que planejava usar minhas cuecas sujas para me limpar. Uma velha apareceu na janela acima da minha cabeça e gentilmente me entregou sua caixinha de Kleenex dizendo, "coragem, meu filho". A discrição do motorista havia sido em vão - todo mundo me observava pela janela. Corri os 100 metros até a tal canaleta em 11,6 segundos, arriei as calças e obrei. Nunca o Vale do Paraíba me pareceu tão belo.
Meu retorno foi triunfal. Me senti o Napoleão regressando da campanha do Egito. Os passageiros todos ovacionaram meu heroismo com calorosas salvas de palmas, assobios e palavras de ordem como, "viva o cagão!", "atrasou a viagem, prega solta!" e "merda mole ninguém segura!". Até a reservada senhorinha me vangloriou, "fica com os lencinhos, filho, e não esqueci de lavar a mão quando chegar em casa".
Poucas pessoas sabem que o célebre "brado retumbante às margens plácidas do Ipiranga" foi dado em circunstâncias semelhantes. Dom Pedro também era bunda frouxa. Naquela patriótica tarde de 7 de setembro de 1822, se fodeu, ou melhor, se cagou de verde e amarelo. Mas não perdeu o rebolado - independência ou morte!
11 Comments:
Achei que terminou mal o texto, mas beleza, tá valendo. Só de ter "obrado" em pleno Vale já me fez rir.
E o seu bolg de literatura séria, um dia existirá?
Bunda voltou a cagar um bom texto!
Momento auge: "Meu retorno foi triunfal. Me senti o Napoleão regressando da campanha do Egito."
Mano! Lajota é muito chato.
Este texto está irado. No mais genuíno estilo "Bunda".
Acho que o Jotagay, lo más simplón, anda querendo uma homenagem aqui no seu blog, Bunda. Conta um causo dele aí. Não vai ser difícil lembrar de um.
Só um reparo: Napoleão sofreu um revés no Egito. Seu retorno não teve nada de triunfal.
Literatura séria? Esse JG é careta mesmo. Já Pedrão, acredito que a intesão tenha sido justamente dizer que a volta não foi tão triunfal assim.
é, bunda... o povo quer te ver na merda. que mané reflexões sobre a classe média! o que pega e o bunda se dando mal.
Então digamos que me senti como o Napoleão regressando da campanha da Itália ou da Espanha.
boa, butt. finalmente voltou à diversão. mas vale a pena ouvir amaury: uma homenagem ao jojota será bem-vinda. como ele bem salientou, não faltam histórias.
haha, boa essa aí. estou com a maioria: bunda descritiva é melhor que reflexiva
posta otro
Quando o Waldemar Neves vai deixar de ser tão inseguro e deixar as pessoas comentarem o blog dele?
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