De fato, o Bunda está de férias. Tem todo o direito, portanto, de deixar o buraco aqui às moscas.
Para quem não sabe, estou na Bahia, não mais em Trancoso, mas em BG (Barra Grande), na pousada do Serjão Bigode. Ele continua bigodudo, gente fina e comandando a padoca da esquina.
Não bebo pinga, mas mandei ver num ácido outro dia e foi bem louco. Areia rosa e pé de côco. Muito pé de côco. E pra vocês que são profissionais liberais e estão se fodendo em janeiro, recebam os pêsames desse desempregado bundão. Ou como se diz aqui: NO STRESS, PÉ DE CÔCO, YES.
A internet aqui custa uma fortuna. Vou ser breve e relatar alguns episódios da minha viagem...
1. Vindo pra de SP para Porto Seguro, havia uma gorda no busão que não parava de falar. Além de falar muito, falava alto o bastante para que todos no ônibus ouvissem. Era evangélica e, talvez por isso, se considerava uma vítima do mundo. Logo, as pessoas deviam se compadecer dela , apesar da sua chatice infinita, porque sofria e Deus devia perdoá-la da sua chatice infinita porque tinha fé. Aleluia, irmãos.
No meio da noite, perdeu os óculos e exigiu que o motorista acendesse todas as luzes do buso para procurá-lo. Como se não bastasse o incômodo das lâmpadas, a gorda ainda arregimentou as pessoas à sua frente, às suas costas e ao seu lado para que ajudassem na busca. Tudo isso em alto e bom som durante meia hora. Até que acharam o óculos dela e ela agradeceu dizendo que sem eles, era uma dor insuportável. "O caroço do olho parece que vai estourar", dizia, "cheguei ate a chorar amarelo uma vez", completou.
Desnecessário dizer que a filha caçula da gorda, chamada Keyla (sim, com Y) e feia como um cupim, gorfou na terceira hora de viagem. Dividia duas poltronas com a mãe e com um outro coitado que se fodeu como eu uma vez me fodi (ver o episódio 1 da Trilogia Suja das BR´s). Bebia iogute como uma draga.
Quando a gorda vazou em Eunápolis foi uma alegria geral. Experiência que resultou na seguinte expressão idiomática, já de uso corrente aqui no litoral baiano, "bancar a gorda". Quando alguém resolve que vai trancar a rua como o Exu, pode escrever: esse alguém está "bancando a gorda".
2. Apesar de bundão, conheci um grupo de chicas gente finíssima. Sim, o Bunda se apaixonou este verão. Ela tem um nome católico e olhos castanhos, nítidos e concêntricos como uma cicatriz. Evidentemente, nada aconteceu fora da minha cabeça fantasiosa. Ainda assim, a guapa rendeu um poema que não cabe publicar no buraco. Ela é argentina e absolutamente linda, de modo que a alma salta à flor da pele.
3. Hoje, fiquei observando uma família durante o jantar. Ao pai, atribui o apelido de Jorjão e, ao filho mais velho, Júnior.
Jorjão é do tipo que usa um Raider marinho junto como uma regata da Reebok. Puxa ferro ocasionalmente, mas a cerveja já limou sua silhueta tanto que, atualmente, está mais próximo de um bujão de gás do que do Stalone. Jorjão guia um station wagon. É aparentemente apaixonado pela sua esposa.
A única coisa que lhe tira o sono são os lábios do Júnior. Há pouco tempo, reparou que são grossos e lisos, talhados pelos deuses e ideais para a prática da chupeta. Toda vez que olha para o Júnior, essa idéia lhe provoca um calafrio. E toda vez que Júnior tenta se aproximar do pai, seja lhe contando uma história, seja abraçando-o, Jorjão o repreende. Tem horror de pensar que sua doce esposa desconfia que nessas horas seu pau infla como um balão de Hélio.
É triste saber que de fato existe um público alvo suscetível às influências da propaganda. É a previsibilidade que torna a classe média digna de asco e pena.
4. A melhor maneira de viajar é sozinho. A cabeça respira. Mas conversar com os amigos de São Paulo durante uma viagem também é bom. Há segredos que só são possíveis longe da rotina.
5. Estarei de volta dia 20 e então novamente prolixo.
Cordiais saudações aos leitores ainda interessados.