A Turma do Bunda e o amiguinho Lajotão
A personalidade de Lajotão não é assim... fácil. Lajotão gosta de treta. Talvez porque seja um sujeito objetivo – as pessoas objetivas não têm papas na língua e, talvez por isso, são mais propensas à confusão. Ou talvez porque seja adevogado e, portanto, dono da verdade. Pugilista por natureza, outros adjetivos já usados para o descrever são “bruto”, “simplão”, “enfezado” e “cabeça de jaca”.
No futebol, por exemplo, Lajotão joga de quarto zagueiro. Tem a classe e a elegância dos craques cujo orgulho supera a habilidade. Dribla os adversários com graça, agilidade e rapidez – na base do chutão e da correria, principalmente pelas laterais – e não perde a bola sem oferecer bons combates (e cotoveladas desleais).
Sua técnica nos gramados é coroada pelo seu espírito de liderança. Se o seu time está atrás no marcador, Lajotão assume a função de juiz e vira o jogo no grito. Quando a situação é realmente grave e a diferença no placar é de 4 ou mais gols, ele também se dispõe a ser técnico da sua equipe e levantar a moral dos companheiros com palavras de ordem incentivadoras como, “a puta que te pariu, Bunda, ou você corre atrás da bola ou sai do jogo e vai dar o cu”.
Lajotão é ruim de diplomacia que só vendo. Uma vez, quase perdeu a cabeça e saiu na mão com uma garota porque esta se recusou a sair da casa que ele e sua turma haviam alugado em Olinda, durante as férias de janeiro do terceiro colegial.
A confusão toda começou porque Lajotão insistia que ela teria que pagar 10 Reais se quisesse ficar ali. A menina protestava dizendo que o preço era extorsivo e injusto já que dormir na casa significava, na verdade, acampar no jardim em meio aos gansos e às fezes destas aves, as quais a dona do imóvel, uma hippie viciada em maconha e axé, criava às dúzias.
O bate-boca foi gradualmente esquentando, e a grosseria, a ironia dos bárbaros, por fim contaminou o raciocínio de Lajotão. Ele mandou às favas aquela negociata improdutiva e fatigante sentenciando, “some daqui, gorda”. A menina enterrou o indicador no seu peito aos gritos de “seu escroto!”. A resposta de Lajotão foi sumária: deu-lhe um empurrão que quase a fez rachar o cóccix na calçada – já que não era tão cadeiruda quanto seu agressor – e trancou o portão debaixo dos seus urros histéricos.
.