27 março 2006

A Turma do Bunda e o amiguinho Lajotão


Apesar de ser um Bunda, tenho alguns amigos nessa encarnação. O Lajotão, meu amigo sangue azul, colega de colégio, de boteco e de sul da Bahia, possui histórias de vida tão pitorescas quanto as minhas.

A personalidade de Lajotão não é assim... fácil. Lajotão gosta de treta. Talvez porque seja um sujeito objetivo – as pessoas objetivas não têm papas na língua e, talvez por isso, são mais propensas à confusão. Ou talvez porque seja adevogado e, portanto, dono da verdade. Pugilista por natureza, outros adjetivos já usados para o descrever são “bruto”, “simplão”, “enfezado” e “cabeça de jaca”.

No futebol, por exemplo, Lajotão joga de quarto zagueiro. Tem a classe e a elegância dos craques cujo orgulho supera a habilidade. Dribla os adversários com graça, agilidade e rapidez – na base do chutão e da correria, principalmente pelas laterais – e não perde a bola sem oferecer bons combates (e cotoveladas desleais).

Sua técnica nos gramados é coroada pelo seu espírito de liderança. Se o seu time está atrás no marcador, Lajotão assume a função de juiz e vira o jogo no grito. Quando a situação é realmente grave e a diferença no placar é de 4 ou mais gols, ele também se dispõe a ser técnico da sua equipe e levantar a moral dos companheiros com palavras de ordem incentivadoras como, “a puta que te pariu, Bunda, ou você corre atrás da bola ou sai do jogo e vai dar o cu”.

Lajotão é ruim de diplomacia que só vendo. Uma vez, quase perdeu a cabeça e saiu na mão com uma garota porque esta se recusou a sair da casa que ele e sua turma haviam alugado em Olinda, durante as férias de janeiro do terceiro colegial.

A confusão toda começou porque Lajotão insistia que ela teria que pagar 10 Reais se quisesse ficar ali. A menina protestava dizendo que o preço era extorsivo e injusto já que dormir na casa significava, na verdade, acampar no jardim em meio aos gansos e às fezes destas aves, as quais a dona do imóvel, uma hippie viciada em maconha e axé, criava às dúzias.

O bate-boca foi gradualmente esquentando, e a grosseria, a ironia dos bárbaros, por fim contaminou o raciocínio de Lajotão. Ele mandou às favas aquela negociata improdutiva e fatigante sentenciando, “some daqui, gorda”. A menina enterrou o indicador no seu peito aos gritos de “seu escroto!”. A resposta de Lajotão foi sumária: deu-lhe um empurrão que quase a fez rachar o cóccix na calçada – já que não era tão cadeiruda quanto seu agressor – e trancou o portão debaixo dos seus urros histéricos.
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Mas me sentei para escrever sobre outro episódio, o qual retomarei em breve...
(na foto da Caras, Lajotão à esquerda do Bunda)

22 março 2006

35 mm de Bunda


Dentro de algumas semanas, o Bunda poderá ser visto em rede nacional. Não, não na novela das oito, no comercial novo do Banco do Brasil.

A filmagem ocorreu esse domingo sob um sol de 35 graus. Começou às 4 da manhã – horário em que tive comparecer à produtora para pegar o ônibus até Alphaville – e terminou às 6 da tarde.

A propaganda é toda composta de cenas externas que foram filmadas na rua, diante de uma simpática banca de jornal. Para dar ao cenário os tons de veracidade necessários, muitos outros atores além de mim e de uma simpática moça negra – nós estrelamos a mega produção – foram convocados. Curiosamente, eles eram mal tratados no set por todo mundo, ganharam uma miséria pela epopéia de 14 horas, representaram o papel dos pedestres, motoristas de táxi e vendedores de cachorro quente e se foderam todos debaixo do sol escaldante. Terminaram o dia com a cara roxa, porque para eles não havia Sundown, e alguns trocados mais ricos.

Ao todo, acho que havia uns 50 figurantes. Curioso que alguns deles, e em particular o motorista do táxi do qual desembarco de maneira espetacular, celular em mãos e sorriso James Bunda no rosto, amam esse tipo de trabalho. 15 segundos na telinha da TV, mesmo que seja de viés, praticamente invisível no meio da multidão, são mais importantes que o pagamento. Andy Warhol estava certo quando afirmou, “só tem loco e filha da puta”.

Creio que o momento ápice da filmagem, aquele que vai interessar ao leitor, foi a parte em que a câmera me filma de frente, desembarcando do táxi. Tive que repetir essa cena de 7,45 segundos mais ou menos 27 vezes.

Vocês podem não acreditar, mas atuar em comerciais pode ser mais desafiador que interpretar qualquer personagem de Shakespeare. Eu tinha que sorrir enquanto fuçava no celular como se aquele instrumento fosse o objeto da minha felicidade no mundo. O diretor dizia, “de novo, Bunda, com mais alegria agora”. Repetia a cena e falhava.

Lá pelo take 16, o diretor começou a se irritar. Então, passou a ser mais didático na explicação do que ele queria, “pensa que você acabou de pagar a conta de luz – é um serviço pela internet que só o seu banco tem”, e, lá pelo take 23, instantes antes de perder de vez a paciência e me mandar chupar os bagos do maquiador cujas tetas davam inveja a qualquer cocota (não estou brincando!), subiu o tom de voz de modo a me inspirar, “você está no futuro e todo o restante das pessoas, no passado!”.

Era só o que eu precisava: finalmente acertei o sorriso apropriado e pudemos passar para o próximo plano.

“Caralho, até que enfim”, confidenciou o diretor aos seus assistentes.

17 março 2006

trilogia suja das BR´s - episódio 2


Era uma vez o ano de 1996 e o segundo colegial. Naquela época remota, namorava a inesquecível número 1. Ao invés de estudar, jogar futebol e me aventurar nas baladas de forró como o resto dos meus amigos, dedicava todo o meu tempo e todas as minhas energias a alguém que não me amava. Não há nada mais bunda mole que o romantismo aos 16 anos.
Um dia, durante as férias de julho, a número 1 me convidou para passar um feriado em Campos do Jordão com ela e com a família. Lá fui eu aproveitar a pequena Suiça da classe média paulistana - passear à sombra dos plátanos, tomar cerveja artesanal no centrinho (nada no universo é mais suburbano e guarujento que o conceito "centrinho") e jogar (mini) golf.
A única recordação que tenho dessa viagem é o dia da minha partida. Não que eu tenha detestado todo o resto, é que algo extraordinário (e trágico) ocorreu nesse dia fatídico...
Indo para a rodoviária, senti uma fisgada mortífera no estômago. A mãe da número 1 estranhou meu silêncio repentino. Desconversei dizendo que só de pensar na volta às aulas sentia calafrios. (Eu pensava mesmo era no "chiquérrimo" fondue de queijo da noite anterior e maldizia do fundo das vísceras essa mania culinária da classe média, que gosta de passar frio pois se sente em clima temperado).
Assim que chegamos, corri a procura do banheiro, mas o encontrei em frangalhos e desprovido de papel higiênico (argh!). A situação era gravíssima: eu estava virando do avesso, meu ônibus estava prestes a sair e não podia pegar o próximo. Por que? Simples: como ficaria a minha dignidade se dissesse para a número 1 na frente da mãe dela, "amorzinho, vou no carro das 11:30 porque tô quase me cagando nas calças"?
Agradeci a hospitalidade, selei a despedida com um beijo e embarquei. Sentei na minha poltrona e comecei a rezar. Assim que o ônibus começou a descer a serra, senti outra fisgada. Aquele era o último aviso antes do desastre. Perguntei ao motorista quanto tempo faltava até a primeira parada. Ele respondeu que a primeira parada era a única parada: São Paulo. Uma lágrima escorreu do meu olho. Ele reparou e se compadeceu da minha miséria. Encostou o ônibus no acostamento e aconselhou à boca miúda, "tem uma canaleta atrás daquelas moitas".
Desci do veículo e abri o porta malas já que planejava usar minhas cuecas sujas para me limpar. Uma velha apareceu na janela acima da minha cabeça e gentilmente me entregou sua caixinha de Kleenex dizendo, "coragem, meu filho". A discrição do motorista havia sido em vão - todo mundo me observava pela janela. Corri os 100 metros até a tal canaleta em 11,6 segundos, arriei as calças e obrei. Nunca o Vale do Paraíba me pareceu tão belo.
Meu retorno foi triunfal. Me senti o Napoleão regressando da campanha do Egito. Os passageiros todos ovacionaram meu heroismo com calorosas salvas de palmas, assobios e palavras de ordem como, "viva o cagão!", "atrasou a viagem, prega solta!" e "merda mole ninguém segura!". Até a reservada senhorinha me vangloriou, "fica com os lencinhos, filho, e não esqueci de lavar a mão quando chegar em casa".
Poucas pessoas sabem que o célebre "brado retumbante às margens plácidas do Ipiranga" foi dado em circunstâncias semelhantes. Dom Pedro também era bunda frouxa. Naquela patriótica tarde de 7 de setembro de 1822, se fodeu, ou melhor, se cagou de verde e amarelo. Mas não perdeu o rebolado - independência ou morte!

12 março 2006

fio dental


As mulheres mais ousadas (e de mau gosto) gostam de frequentar a praia de fio dental. Hoje me peguei pensando no nome desse modelo de maiô tão célebre nas areias de Ipanema e Copacabana. Será que se chama fio dental porque desaparece entre as nádegas da mulher da mesma maneira como o utensílio de higiene bucal que lhe deu nome desaparece por entre os dentes?
Minha resposta é não. A origem do termo em questão está diretamente relacionada ao asseio. Tive o insight hoje, enquanto passava fio dental. Há uma semana, mais ou menos, não o fazia (na verdade, um mês e meio - todo mundo mente pro dentista a esse respeito). O lado bom é que a imundície estimula a criatividade.
Encaminhava-me para o terceiro par de dentes quando notei a presença de um leve odor de peido no banheiro. Achei aquilo curioso pois não havia soltado um traque nem esquecido de dar a descarga. Apurei o olfato e, para minha surpresa, descobri que a lofa intestinal subia de dentro da minha própria boca. O fio dental exalava o mesmo vapor cadavérico de enxofre. Era como se eu tivesse comido espetinho de cocô na hora do almoço.
Como não sou o único no mundo que fala merda e tem preguiça de passar fio dental, sei que muitos leitores já se estarreceram com o fato de possuírem dois ânus (falando nele, qual é o plural de ânus? Anís?). Pois então, acompanhem o raciocínio...
O maiô fio dental recebeu esse nome só porque se molda rente ao fiofó das minas e, eventualmente, incorpora o cheiro característico dessa região. Claro está que o fio dental foi uma invenção das fêmeas da classe média carioca.

08 março 2006

elite brasílica

O Brasil, além de outras estatísticas impressionantes, possui a elite mais nojenta do mundo, a qual, nesse buraco, recebe o nome de classe média. Claro está, portanto, que a definição desse conceito, utilizado aqui com bastante freqüência, não é econômica. Minha intenção não é fazer sociologia e sim cutucar o rabo dos hipócritas com meu dedo médio.
Alguns aspectos que definem a elite brasileira enquanto classe média (na acepção de uma classe social medíocre - abastada, inculta e centrada em si mesma):
- andar por aí de bunda suja
- cobiçar o carro do ano
- pagar US$ 100,00 pra ver o Bono
- pagar R$ 1.000,00 numa calça jeans da Diesel
- pagar pra ter razão
- comer açai na Hélio Pelegrino
- idolatrar o Jô Soares
- ler o Código da Vinci e recomenda-lo como leitura indispensável
- maltratar garçons
- varar faróis vermelhos
- esculachar os travecos da avenida do Jóquei
- fazer fila pra comer Burger King sexta à noite
- fazer fila no Cinemark sábado à noite
- fazer fila de Harley Davidson no Pirajá domingo à tarde
- fazer fila
- malhar
- considerar a si mesmo o centro do universo
- assinar a Veja
- considerar a seleção brasileira sinônimo de nacionalismo
- vou pensar em outras coisas mais...

06 março 2006

U2


Na semana anterior ao carnaval, a classe média paulistana recebeu o U2 de braços abertos. Em Buenos Aires foi a mesma coisa. Todo um alvoroço para ver de perto uma banda pop meia boca cujo vocalista tem nome de bolacha e cara de pastel.
O Bono Vox é o Hugo Chavez da música internacional - um demagogo. A maneira como se veste é tão curiosamente ridícula quanto as suas palavras. Se o nosso saudoso Falcão "I´m not dog, no" fosse milionário, compraria os mesmos óculos escuros bordô da Gucci. Porém, teria o bom senso de não cobiçar o chapeuzinho caubói estilo BrokeBack (SuckCock) Mountain.
A ingenuidade do discurso de Bono Vox em favor do fim das desigualdades sociais no mundo é compreensível, vá lá, já que o seu público é composto majoritariamente de adolescentes e retardados mentais. O que é inadmissível é esse filha da puta vir ao terceiro mundo, cobrar cem dólares num ingresso e ainda bancar o prêmio Nobel, posando pra foto ao lado do Gilberto Gil e do nosso ilustre presidente Lulo.
São Paulo parou para dois dias por causa dos shows do U2 - o trânsito estanque nas principais avenidas. Eu que sou bunda, mas não sou burro, trafego pela cidade de bicicleta. Não imaginam qual foi o meu prazer de ver a classe média se foder a caminho do Itaim, congestionada no bafo morno das seis e quinze da noite em plena segunda-feira. Voava pelo corredor entre os carros contemplando a cara de cu dos jovens motoristas engravatados dos Golfs, Audis e EcoSports aflitos para chegar em casa e correr pro Morumbi.
Fim das desiguldades sociais no mundo é ver a classe média se foder.